No âmbito da sua recente eleição como Presidente da Direção Nacional da APG – Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas, Pedro Ramos fala à RHmagazine dos trabalhos previstos para o seu mandato. Enquanto especialista na área de RH, acumulando uma experiência que conta já com largos anos, Pedro Ramos reflete ainda sobre os principais desafios que o setor enfrenta e como podem as empresas ultrapassá-los.
Foi eleito, há relativamente pouco tempo, Presidente da APG. Que desafios é que tem pela frente e o que prevê para este mandato?
A APG existe desde 1964, porém está mais atual do que nunca, porque nunca como hoje foi tão desafiador ser gestor de pessoas. No fundo, apesar de ser uma associação antiga, estamos muito focados no presente e, sobretudo, em ajudar a construir o futuro da gestão de pessoas nas empresas. Comigo estão mais 10 pessoas, líderes nas suas áreas. Somos 11 elementos cheios de energia para, de alguma forma, passarmos a mensagem de uma APG de todos. E porquê de todos? Porque não é só dos gestores mais antigos, não é só dos novos, mas é também dos estudantes que estão a preparar o futuro, dos professores, das entidades que organizam eventos e publicam revistas, como a RHmagazine… De todos, no sentido de agregar para depois distribuir. É esta a missão que temos para os próximos três anos. Queremos também mudar um pouco a imagem, tornando-a mais moderna, mais atrativa, comunicar mais e aparecer de forma diversa e para diferentes públicos.
E que iniciativas têm vindo a desenvolver e que estão previstas?
Criámos o conceito da APG People Hub, que, para além de Lisboa, já passou por Coimbra, e o objetivo é expandir, para ser de todos. Trata-se de agregar valor, seja a propósito do lançamento de um livro, de palestras/mesas redondas em torno dos mais variados temas, etc.
Para além disso, temos um conjunto de outras iniciativas, que passam por eventos, mas também por estudos, assentes numa grande proximidade às universidades, e vamos ter novidades no nosso encontro nacional deste ano. Aquele que será o 53.º Encontro Nacional da APG realizar-se-á nos dias 10 e 11 de novembro, na Alfândega do Porto, sob o mote: Taking People & Business To The Next Level. Os temas serão incríveis e super atuais.
O IIRH – Instituto de Informação em Recursos Humanos e a APG renovaram, também recentemente, o protocolo de cooperação. O que significa?
A APG não quer substituir-se, de forma nenhuma, às entidades que já fazem tão bem aquilo que fazem. E a RHmagazine e o IIRH fazem um trabalho incrível, seja no que aos eventos diz respeito, ou à própria revista editada com uma qualidade muito boa e cada vez mais bonita. Assinámos o protocolo para estarmos juntos num conjunto de momentos, mas também para organizarmos novos projetos. Algo que podemos revelar é que o APG People Hub vai ter como grande sponsor o IIRH.
Voltando ao mote do 53.º Encontro Nacional da APG, qual é esse “next level”? Que grandes desafios é que os RH têm pela frente?
Na pandemia aconteceram coisas péssimas, como sabemos, mas aconteceram também oportunidades incríveis. Desde logo, as pessoas nas empresas ganharam um protagonismo que nunca tiveram e, hoje, esse protagonismo dá-lhes um poder extraordinário: recusam-se a voltar às empresas ou a trabalhar com aquele chefe e as empresas desesperam por encontrar as pessoas certas. Esse novo protagonismo é um grande desafio para a gestão de pessoas. Agora, o desafio é cuidar das pessoas para que elas não fujam, ou seja, considerar o que se costuma chamar de atração permanente das pessoas.
Nos EUA, fala-se muito de “Great Resignation”. Considera que se aplica a Portugal ou o nosso contexto é tão diferente que não faz sentido falar nisso?
O contexto é muito diferente, mas aplica-se, sim. É óbvio que esses fenómenos verificam-se muito mais em grandes empresas, mas mesmo nas médias está a aplicar-se e em determinados setores, como o das TI, onde os colaboradores simplesmente aprenderam a viver de outra forma. As pessoas mudaram o seu nível de exigência, perceberam que, por exemplo, já não aguentam ambientes tóxicos, já não têm paciência para líderes tóxicos, e se puderem mudar de empresa, mudam. Outras habituaram-se a viver com menos dinheiro e perceberam que aumentaram a qualidade de vida e que podem dedicar mais tempo aos filhos. Voltar à escola é também um fenómeno que está a acontecer: as pessoas qualificam-se e têm outras aspirações. A “Great Resignation” é, de facto, uma realidade, que tem a ver com o tal novo protagonismo que as pessoas ganharam, e isto está a acontecer em Portugal.
O que podem fazer as empresas para as pessoas não se irem embora?
Devem pensar nas pessoas como seres integrais que são. Não olhar para elas como sendo todas iguais, como uma massa de gente, mas devem pensar no “Pedro”, na “Maria”, na “Cristina”… Já andávamos com este discurso há bastante tempo, mas efetivamente as empresas não o estavam a efetivar. Aprendemos, agora, que temos mesmo de ir ao encontro das necessidades de cada um, de forma individualizada. As pessoas não querem todas o mesmo; querem, sobretudo, poder escolher. E este é o maior benefício que lhes podemos dar: a possibilidade de escolha. As empresas devem proporcionar uma boa experiência do colaborador, que, hoje, começa muito cedo – desde o preboarding ao offboarding -, e os gestores devem estudar muito bem todo este processo. Têm de mudar todos os modelos de avaliação de desempenho, de definição de objetivos a curto prazo, reorganizar equipas diversas, porque nunca trabalhámos diversidade na organizações… Estes são os nossos temas dos próximos tempos. Claro que é um desafio enorme para os gestores de pessoas, sobretudo, de grandes empresas, mas, agora, é um bom momento para refletir sobre eles.
Um dos temas que também tem surgido e de que se fala um pouco menos é que as jovens gerações, os millennials, diferem ainda mais da geração anterior. São pessoas que não se conseguem fidelizar. Como se pode gerir, recrutar e reter estas pessoas?
Eu não gosto de abordar este tema na perspetiva das idades, porque nós temos novos velhos e velhos novos e a pandemia veio trazer exatamente isso ao de cima. Temos pessoas que não pertencem a essa geração e que hoje têm exatamente esse comportamento e temos outras mais jovens que têm o comportamento oposto. O que eu acho é que se deve gerir, tendo sempre presente a máxima de que ninguém vai conseguir prender ninguém dentro de uma organização. Tem de se ser atraente e atrair, de facto, permanentemente as pessoas, e de forma diversa. Conhecendo as pessoas é possível atrair, através de um benefício especial, de uma oportunidade de crescimento, de desenvolvimento… O foco tem também de estar muito na atitude dos líderes, que estão também eles exaustos. Há que trabalhar as lideranças para que elas consigam ser suficientemente atraentes.
Os responsáveis de RH fizeram um grande trabalho durante a pandemia…
Fizeram. Os responsáveis de RH, durante a pandemia, foram uns autênticos heróis. Começaram por ser bombeiros involuntários, depois passaram a bombeiros voluntários, depois a construtores de pontes, a cuidadores, psicólogos, orientadores… Tiverem de redefinir modelos de trabalho e ajudar na definição de modelos de trabalho. Sobretudo, tiveram de ser muito comunicadores e, felizmente, estavam preparados para isso. Têm sido muito transformadores. Diria que ser-se gestor de pessoas nos tempos que correm é ser-se um autêntico herói.
Em junho deste ano foi lançado o livro “Gestão de Empresas com Pessoas a Bordo”, que coordenou com Vasco Ribeiro. O que nos pode dizer acerca da obra?
Numa conversa muito informal, eu e o Vasco pensámos que seria interessante, mesmo durante a pandemia, pedirmos experiências a especialistas, líderes de diferentes setores (num total de 62 autores). Definimos um conjunto de temas – uns mais ligados à gestão e outros à gestão de pessoas – e pusemo-los a conversar. No fundo, o que temos aqui é uma partilha de reflexão misturada com muita experiência vivida, num momento altamente desafiador. Eu diria que é o primeiro grande livro de gestão e de gestão de RH no pós-pandemia. Mais do que testemunhos integra conselhos, vivências, experiências, situações que mudaram… E é muito interessante, porque as pessoas são todas diferentes e têm perspetivas diferentes de algo comum, que é terem “pessoas a bordo”; não há empresas sem pessoas. É uma obra que nos orgulha muito enquanto coordenadores, e os momentos que temos feito de apresentação do livro têm sido muito ricos.
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